Como
o professor aprende a ensinar? Como o bom professor aprendeu a ser assim? Vocação? Experiência? Cursos? Você já se fez
essa pergunta enquanto professor ou coordenador? Certamente... e quais foram as
respostas?
Se
buscarmos na literatura e em pesquisas realizadas veremos que o professor se
faz a partir de suas primeiras experiências ainda nos tempos de estudante, imprimindo em suas ações marcas, muitas vezes implícitas, das lembranças que guarda na memória, tanto positivas quanto negativas. Traz também
experiências enquanto estagiário, iniciando a observação com olhos de quem um
dia será profissional, mas ainda não possui fundamentação teórica e experiência suficiente para
justificar porque considera ou não determinado professor um bom modelo a
seguir quando assumir uma sala de aula. Sobre o estágio cabe destacar sua
importância para a construção de conhecimentos docentes no curso de Pedagogia. Gatti
(2011), ao discutir a formação docente e a realização dos estágios nos cursos
de licenciatura aponta:
Quanto
aos estágios supervisionados, que, em princípio, deveriam constituir-se em
espaços privilegiados para a aprendizagem da relação das teorias com a prática
possíveis, não se obteve evidências, na grande maioria dos casos, sobre como
são concebidos, planejados e acompanhados (GATTI, 2011, p.114).
A
autora traz em sua pesquisa, dados que demonstram que os estágios ainda são
deficitários e em pouco contribuem com a construção de saberes e o desenvolvimento
de competências do futuro profissional docente.
Ao
iniciar na carreira, geralmente como professor eventual substituindo falta de
docentes, é raro criar vínculos com a equipe da escola, com outros professores
e com uma turma de alunos. Sua formação na graduação mostra-se insuficiente
para lidar com todas as situações do cotidiano escolar e, ao mesmo tempo, ainda
não participa de formação continuada junto a outros profissionais. Talvez, um
dos aspectos positivos dessa fase seja justamente o contato com diversificados
grupos de alunos e de colegas de profissão que podem lhe render aprendizagens
significativas.
Ao
assumir uma sala de aula, uma turma, para um trabalho sequenciado (efetivação
por meio de concurso público ou contrato por prazo determinado, por exemplo), o
professor tem a oportunidade de participar de forma mais efetiva nas ações
formativas dentro do âmbito escolar, espaço genuíno de formação continuada.
Além disso, aos poucos o vínculo com os pares se estabelece e passa a ser mais
um meio de aprendizagem da profissão. A formação continuada muitas vezes surge
em pesquisas com professores como uma das fontes de aprendizagem considerada
como essencial para a construção de seus conhecimentos e seu desenvolvimento
profissional. A esse respeito, Cardoso (2007, p. 368) evidencia que:
O trabalho de formação continuada
é complexo e composto por inúmeras variáveis que agem simultaneamente. A
essência do trabalho formativo está em criar mecanismos que permitam ao
formador identificar, a cada etapa, o que os professores sabem e o que precisam
aprender e depende do desenvolvimento da capacidade de relacionar o que dizem
com o conhecimento conceitual que está por trás de suas falas.
Contudo,
o contato com os pares e as reuniões pedagógicas não comportam em si mesmas o
fator determinante da aprendizagem docente. A autoformação, a reflexão sobre a
própria prática (reflexão praxeológica) e a parceria formativa com a
coordenação pedagógica mostram-se como elementos significativos e fundamentais
nesse processo de aprendizagem profissional. A respeito dessa reflexão sobre a
prática vale ressaltar Perrenoud (2002, p.50):
Uma prática reflexiva não é
apenas uma competência a serviço dos interesses do professor, é uma expressão
da consciência profissional. Os professores que só refletem por necessidade e
que abandonam o processo de questionamento quando se sentem seguros não são profissionais
reflexivos.
Assim,
buscando na literatura, encontramos como fundamentação teórica TARDIF e LESSARD
(2005), que esclarecem que o professor constrói suas concepções sobre a
docência a partir de múltiplas fontes de aprendizado. Essas concepções definem
como os professores compreendem o processo educativo e realizam suas ações
pedagógicas. ANDRÉ (2010) ressalta que é preciso entender a aprendizagem
docente como um processo contínuo, que se dá ao longo da vida profissional,
articulado às práticas e ao contexto da atividade dos professores. Ainda sobre
o desenvolvimento profissional docente, MARCELO (2009) ressalta que tal
desenvolvimento deve ser compreendido sob a perspectiva da procura por uma
identidade profissional.
Os
dados de vários estudos mostram a necessidade de garantir que o espaço escolar
se torne, além de espaço de trabalho, um lugar da formação docente. Nóvoa
(2009, p. 17), salienta que é preciso “passar a formação de professores para
dentro da profissão”. Ou seja, a escola é o lugar privilegiado para a formação
docente, desde que propiciados momentos de interação entre os pares, formação
com foco nas necessidades reais dos professores, reuniões de Conselho de Classe
formativas e não somente burocráticas, e considerar a escola como uma
comunidade de aprendizagem em que todos os inseridos no processo educativo tenham
oportunidade de desenvolver suas habilidades e competências, seja aluno,
professor ou gestor.
(Para
aprofundar neste assunto, recomendo a leitura de minha dissertação de mestrado:
PRÁTICAS FORMATIVAS E APRENDIZADO PROFISSIONAL: O QUE DIZEM OS PROFESSORES,
2017)
Comentários
Postar um comentário